segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Nutrição funcional é a predileta de quem acredita que a boa saúde começa na mesa

Conceito de alimento funcional
tem raízes orientais

Porto Alegre (Segunda-feira, 24-10-2011) Faça este teste. Ao pegar uma laranja na mão, você a encara de que forma: como uma fruta normal ou como uma poderosa fonte de vitamina C que vai ajudar a fortalecer o seu sistema imunológico? Se escolheu a segunda resposta, isso significa que possivelmente você faça parte do grupo de pessoas que acredita no poder de prevenção e tratamento dos alimentos.

Considerar as comidas pelo viés do benefício que elas podem trazer ao organismo é o mantra da nutrição funcional, um olhar da ciência sobre as potencialidades dos nutrientes, que começou a ser difundido na década de 1990, e desde então tem sido alvo de pesquisas no mundo todo.

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a doutora em engenharia de alimentos Simone Hickmann Flôres comemora descobertas animadoras. Em uma delas, substâncias antioxidantes presentes em frutas nativas do Estado – a guabiroba e o araçá – protegeram os fígados de ratos quando os mesmos foram lesionados com uma substância antitumoral (cisplatina), cujo efeito colateral é danificar células saudáveis.

“Na comparação que fizemos, os ratos que foram nutridos com as frutas e ração por 28 dias tiveram uma proteção extra no fígado, e os níveis de colesterol e glicose permaneceram estáveis, o que não ocorreu com os ratos que não receberam as frutas. Isso demonstra que os antioxidantes protegeram as células”, explica Simone.


Caracterizado como opção gastronômica que, além de produzir energia para o corpo e nutrição adequada, vai além, auxiliando na prevenção de diversas doenças, o conceito de alimento funcional tem raízes orientais.

Conforme a pesquisadora, certa vez começou a associar-se a longevidade dos japoneses ao que eles consumiam: em geral pratos ricos em soja e peixes de água fria, que contêm altos índices de polifenóis e ácidos graxos, respectivamente. Além do potencial terapêutico, a cozinha funcional também leva em consideração a escolha dos mantimentos, o tipo de cozimento (quanto mais cru, melhor), se é orgânico e a variedade de cores. Para colher os benefícios, sugere-se, por exemplo, consumir cinco porções de frutas, verduras e legumes por dia, ainda que não haja uma comprovação científica.

Enquanto os ácidos graxos são apontados como bons para o sistema circulatório e a atividade cerebral, os polifenóis da soja (isoflavonas) agem como hormônios e também são ricos em antioxidantes. Outros grãos com efeitos similares ao da soja são a quino a e chia. Além desses, outros exemplos considerados funcionais são o ácido oleico do azeite, que ajuda a reduzir o colesterol, os antioxidantes como vitaminas A e E, compostos fenólicos e carotenoides, presentes nas frutas e legumes e também as fibras, que ajudam no funcionamento do intestino. Já os probióticos, presentes nos iogurtes, queijos e leites fermentados, ajudam a regular a flora intestinal.

Outra novidade descoberta pelo Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos (ICTA) da UFRGS, sob orientação de Simone, é o poder antioxidante de frutas nativas do Estado, como guabiroba, uvaia, araticum, guabiju, butiá e tuna.

“Descobriu-se que guabiju e a guabiroba têm alto poder antioxidante podendo ser comparado com o mirtilo (blueberry), seguidos do araçá. O conteúdo de vitamina da guabiroba é similar ao de frutas cítricas (laranja, limão) que são conhecidos como fonte de vitamina C. O butiá tem poder antioxidante comparável com o açaí que é considerado atualmente como "superfruta”. Todas as demais apresentaram composição de minerais e vitaminas similares com frutas comumente conhecidas”, relata.

A nutricionista Juliana Rocha acrescenta que os alimentos funcionais vêm sendo estudados pela nutrigenômica, ciência que utiliza dados do mapeamento genético humano para criar cardápios personalizados. Funciona assim: se eu tenho muitos casos de câncer de mama na família, é indicado que eu consuma grandes quantidades de brócolis e linhaça por tempo indeterminado. Ambas as substâncias são ricas em 3-Indol-Carbinol, que promete desativar o gatilho genético para o câncer, atuando principalmente na prevenção à doença.

“ A prevenção é fundamental para evitarmos diversos tipos de doenças. O fator genético não é o único determinante. A comida conversa com os nossos genes”, atesta a nutricionista.

Juliana foi integrada recentemente à equipe de um oncologista para tratar de um paciente com leucemia, em conjunto com a sua equipe. O objetivo é fortalecer o sistema imunológico do rapaz , oferecendo-lhe uma dieta rica em antioxidantes, contribuindo para o tratamento.

De maneira genérica, a medicina vê com menos positivismo a utilização de vitaminas, minerais, ácidos graxos essenciais, fibras, compostos antioxidantes e probióticos para esse fim.

“Ainda será preciso mais trabalhos para demonstrar que os alimentos que contenham essas substâncias realmente funcionem”, ressalta o endocrinologista Giuseppe Reppetto, do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Segundo ele, é possível compreender que fibras diminuam a incidência de câncer no intestino, mas não que, ao comer fibra, não se terá câncer. “Alimentação equilibrada faz bem, mas não podemos ser dramáticos, achar que vamos viver mais por comermos determinados alimentos”, pondera o médico.

Com informações da Agência RBS

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